
o Anti-Édipo seja uma continuação daquilo que em "Diferença e Repetição" Deleuze já se contrapunha: a representação. Claro que em DF se direcionava mais à filosofia da representação. No Anti-Édipo percebe-se num primeiro momento a crítica à representação na psicanálise ou, dito de modo mais preciso, ao Édipo, seja enquanto complexo (Freud), seja enquanto estrutura (Lacan). É que a psicanálise, no entender de Deleuze e Guattari, teria desfigurado aquilo que seria própria do inconsciente: a produção. Ou seja, para a psicanálise, em vez de teorizar por um inconsciente que produz, teríamos um inconsciente que representa. E pq teria ocorrido tal desfiguração? Pq Freud assim como os seguidores de Lacan relacionaram o desejo à idéia de falta. Para Deleuze e Guattari, nada falta ao desejo. E pq? Pq estamos desde sempre em relação, compondo sempre novos modos de se relacionar ou agenciar. Estamos sempre afetados por todo tipo de forças (um vento, o som de um objeto que cai, a voz de alguém, alguma coisa que alguém diz, algo que vimos, algum evento de ordem política-histórica..enfim, uma infinidade de coisas), e não paramos de ser afetados. Desse modo, o desejo sempre está conectado, produzindo e sendo produzindo. A psicanálise, ao por a causa do desejo na falta, desconhece completamente a produção desejante. Se se vincular a falta no desejo, restitui-se um sujeito (mesmo que inconsciente). Nesse caso, alguém só deseja pq carece de um objeto perdido. Restituímos a velha dicotomia sujeito-objeto. Freud, segundo os autores, pensa o inconsciente como uma tentativa de resolução (mas insolúvel) de uma trama familiar. Freud, desse modo, faz o desejo envergonhar-se de si (por causa do incesto) e desse modo aprisiona o inconsciente em querelas de um romance familiar, tendo como consequência o desconhecimento completo de que o desejo investe e é investido primeiramente por forças históricas-políticas.
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